Recentemente no mês de outubro uma das maiores personagens da história, talvez a mais importante dentre todos os ícones femininos ilustrados nos quadrinhos, a Mulher Maravilha, completou 75 anos e em meio ao outubro rosa e a nomeação da personagem como embaixadora honorária da ONU, ação que objetiva o desenvolvimento sustentável, a igualdade de gêneros e o empoderamento das mulheres e meninas até 2030. No cinemas, um filme solo está sendo produzido e está previsto para estrear em junho de 2017. Com tantas noticias podemos dizer até, de certa forma, que 2016 é o ano da Mulher Maravilha.
Em dezembro de 2016 acontecerá em São Paulo a CCXP e dentre os escritores e desenhistas já confirmados para o evento está Brian Azzarello, um dos grandes nomes da indústria dos quadrinhos autor de séries como 100 balas e Loveless pelo selo Vertigo e para o Universo DC Comics a reformulação da Mulher Maravilha no reboot pós-flashpoint, os Novos 52, e mais recentemente escrevendo a série Cavaleiro das Trevas 3 ao lado do amado e consagrado autor Frank Miller.
E é por isso que preparamos um especial sobre esta personagem que merece muito figurar entre os principais ícones da cultura pop, afinal 75 anos de história não é para qualquer uma.
Vamos apresentar uma breve retrospectiva da carreira da Amazona Diana e também o review de dois excelentes encadernados publicados recentemente no Brasil pela editora Panini Comics: Mulher Maravilha: Sangue e Mulher Maravilha: Direito de Nascença, publicações em capa dura com papel couché, ambos escritos por Brian Azzarello e arte de Cliff Chiang, além do review teremos também curiosidades e indicações de grandes clássicos para que os novos leitores possam conhecer melhor essa, que sem dúvida alguma, é a maior heroína da história das HQs.
Processo de criação e desenvolvimento
Criada pelo psicólogo e inventor do polígrafo William Moulton Marston, nos anos 40, em uma época onde a maior parte dos heróis e protagonistas das HQs eram homens, como Batman, Lanterna Verde e Superman.
Inicialmente o escritor teve uma ideia de criar um personagem que vencesse os seus adversários não somente através da força física e de super poderes, mas através do amor e foi nesse momento que graças à Elizabeth Holloway Marston, a esposa de William Marston, que ao ficar sabendo do projeto do seu marido, solicitou ao mesmo que a personagem fosse uma mulher.
O escritor passou a desenvolver a personagem juntamente com a sua esposa Elizabeth e com Olive Charles Byrne, uma mulher que viveu com o escritor um relacionamento bígamo, por este motivo nos primeiros registros William Moulton Marston utilizou o pseudônimo de Charles Moulton combinando assim o próprio sobrenome ao de Olive.
Marston a partir de então passou a descrever a personagem como modelo do poder feminino e um ícone da ideologia feminista, que buscava a igualdade de direitos entre homens e mulheres, em uma época onde o machismo e o preconceito contra as mulheres, eram ainda maiores do que hoje, contribuindo assim para uma sociedade desigual. o escritor pode ser considerado ousado na sua proposta de criar uma heroína, e com um proposito muito nobre, utiliza-la como uma espécie de propaganda visando mostrar que as mulheres podem não somente ser iguais aos homens, mas podem ser superior a eles.
A estreia da Mulher Maravilha nas HQs ocorreu na revista All Star Comics número 8, publicada em dezembro de 1941, a Diana da ilha de paraíso, nome como a personagem foi apresentada, diferente do que vemos hoje como Diana de Themyscera, foi introduzida no universo DC em uma história da Sociedade da Justiça.
Assim como Superman e Batman na DC Comics e Homem Aranha, Hulk e Capitão América na Marvel Comics, a Mulher Maravilha tornou-se parte do imaginário popular devido à longevidade das publicações em quadrinhos e dos inúmeros produtos relacionados à heroína, como brinquedos, séries televisivas, jogos eletrônicos, filmes e desenhos animados. Por este motivo não é necessário para a sobrevivência do legado da personagem, exista a dependência de apenas uma mídia, provando assim que a criação ousada para época, de Marston foi e é um sucesso.
Origens
A DC em virtude dos reboots realizados dentro do seu universo, alterou com o passar das eras a origem de vários personagens, alguns deles como Superman e Batman tiveram elementos alterados, porém o básico sempre permaneceu, como por exemplo, a destruição do planeta Krypton, fato que levou Jor-El e Lara a enviarem o seu filho Kal-EL em uma capsula espacial para a terra, o qual viria a ser adotado pela família Kent, tornando-se posteriormente, graças aos raios do sol amarelo, o maior herói de todos os tempos, o Superman. Porém com a Mulher Maravilha as mudanças no decorrer das eras de ouro, prata, pós-crise e os Novos 52 foram grandes, por isso contaremos cada origem de forma separa para evitar confusão, afinal de contas estamos falando de 75 anos de história.
Era de Ouro (1941 – 1950)
A Diana da era de ouro é filha de Hipólita, a rainha das amazonas, a qual moldou no barro a figura de um bebê, que recebeu a vida graças à deusa do amor Afrodite.
A história da Mulher Maravilha começa quando Steve Trevor, um piloto da força aérea americana, acaba pousando, após ser atacado por um caça nazista, na ilha paradisíaca de Themyscera, um local escondido do mundo pelos deuses do olimpo e lar das Amazonas, a ilha é habitada somente por mulheres, que na grande maioria são guerreiras altamente treinadas.
Após cuidar dos ferimentos de Steve Trevor, as habitantes de Themyscera resolvem ajudar o piloto americano a retornar para a sua casa, para isso Hipólita decide organizar um desafio entre as amazonas, onde aquela que se provasse a mais brava e destemida seria encarregada da missão.
Diana, que havia se apaixonado por Steve Trevor, é proibida de participar da disputa pela sua mãe Hypolita, porém contrariando a rainha, Diana se disfarça usando um capacete e consegue vencer os todos os desafios.
A rainha Hypólita acaba aceitando a vitória de sua filha e a deixa ir, porém antes de deixar o reino das Amazonas ela é presenteada com o seu traje que remete as cores da bandeira americana, nação a qual deverá conduzir o piloto Steve Trevor, além do traje Diana também recebe o laço da verdade, os braceletes e uma tiara que pode ser arremessada como um bumerangue.
Inicialmente, no mundo dos homens, a Amazona adota o nome de Diana Prince e atua como enfermeira da força aérea dos Estados Unidos, e posteriormente se envolve nos conflitos da Segunda Guerra Mundial, lutando contra os nazistas e tornando-se assim uma verdadeira heroína de guerra, fonte de inspiração para as mulheres, que nos anos 40, não eram envolvidas nos conflitos armados que aconteciam na Europa e Ásia.
Assim nascia a Mulher Maravilha, símbolo e ícone de toda uma geração, um modelo a ser seguido pelas mulheres que poderiam se inspirar pelos atos de heroísmo e pelos valores pregados nas histórias como verdade, amor e paz.
Era de prata (1950 – 1970)
A era de prata, período que compreende as histórias de meados dos anos 50 até meados dos anos 70, foi um uma das eras que mais modificou os personagens, muitas mudanças ocorreram devido ao Comics Code Auhotity, um código que visava controlar o conteúdo publicado, pois no inicio dos anos 50 existia uma polêmica que dizia que os quadrinhos contribuíam para a delinquência juvenil.
Este código contribuiu para que os quadrinhos de Super Heróis, que passavam por um momento comercialmente ruim, fossem revitalizados no mercado, pois graças ao Comics Code Auhotity, as HQs com temas como terror, gangsteres, guerra e violência sofreriam, de certa forma, repressão o que abriria a possibilidade para que os quadrinhos de super heróis dominassem o mercado, fato que ocorre até hoje.
Porém nem tudo pode ser considerado perfeito para os heróis durante a era de prata, pois apesar do sucesso e comercial e consequente domínio neste nicho de mercado, as histórias no geral passaram a não agradar muitos fãs antigos, que acompanharam a era de ouro e o surgimento dos super heróis, devido ao controle e a “censura” muitas histórias de heróis tornaram-se infantis, assim foi possível ver personagens que tinham uma temática séria como o Batman, possuir histórias que praticamente eliminaram o tom sombrio e violento das suas histórias e tornando as mesmas alegres e contendo até mesmo viagens espaciais, o que destoava totalmente da proposta apresentada pelos criadores do personagem.
Com relação à Mulher Maravilha da era de prata, os leitores conservadores não foram surpreendidos de forma negativa, pois a personagem seguiu praticamente a mesma origem apresentada na era de ouro, porém de forma mais branda, com histórias que apresentam um tom mais romântico e sensível, inicialmente com interações entre Diana e os deuses e semi-deuses que a ajudam, como o caso de Afrodite e a sua mãe Hipólita, e não fazendo tanto o perfil guerreira Amazona da liberdade travando combates contra nazistas e gênios do crime.
Em alguns momentos a Mulher Maravilha da era de prata foi apresentada como uma personagem extremamente sensível e emotiva, porém com uma capacidade única de se reinventar e reconstruir atuando em inúmeras profissões, mostrando assim uma personagem que refletia não somente uma heroína capaz de superar adversidades, mas também a capacidade da mulher moderna de se adaptar e superar os desafios impostos pela vida.
Na parte 02 iremos abordar “Pós-Crise nas Infinitas Terras“, Grandes clássicos e os Novos 52.
Fique Ligado!
Paulo, parabéns mais um texto cheio de conteúdo rico e objetivo, a Mulher Maravilha é sem duvida uma personagem fantástica… sempre gostei muito e para mim é digna dos 75 anos, amei citar as alterações de comportamento dela e explicar que o fato esta diretamente ligado ao mundo real e seus pensamentos conservadores..
Aguardo as novidades que deve estar preparando!