Mesmo com tantos artistas renomados atuando a frente do titulo da Amazona durante anos, conforme apresentamos nas partes 1 e 2 do especial sobre a Mulher Maravilha, até então a comunidade de fãs de HQs dificilmente destacava um grande número de arcos de histórias marcantes que realmente fizessem jus a maior heroína da história dos quadrinhos, porém isso, de certa forma, mudou a partir da reformulação da personagem no reboot realizado pela DC Comics em 2011, posterior ao evento Novos 52.
O reboot dividiu opiniões entre os fãs do Universo DC, principalmente aqueles que acompanhavam os personagens há muitos anos, porém não podemos negar o fato de que a iniciativa foi um sucesso comercial, que ajudou a elevar mais ainda o status da DC Comics que agora com a nova fase chamada Rebirth, conseguiu se equiparar no rank de vendas nos Estados Unidos diante da sua principal concorrente que liderou o mercado nos últimos anos, a Marvel Comics.
Outro fato inegável com relação aos novos 52 é que a fase da personagem Mulher Maravilha, escrita por Brian Azzarello e desenhada por Cliff Chiang, merece figurar talvez, como o maior momento na história da Deusa Amazona, com um roteiro extremamente bem amarrado, lembrando em alguns momentos uma novela (no bom sentido), envolvendo traição, amizade, paixão, amor, ódio e vingança e com uma arte limpa, clara e objetiva realçando as principais características da Mulher Maravilha como verdade, força, coragem, determinação e sensibilidade, tudo destacado na medida certa, tornando a leitura muito agradável.
Mulher Maravilha: Sangue
O encadernado Sangue reúne as seis primeiras histórias da nova fase que se iniciou em 2011, o reboot conhecido como Novos 52.
No Brasil a Panini Comics inicialmente publicou as histórias no mix mensal Universo DC e posteriormente em um encadernado em capa dura e papel couché, intitulado como Mulher Maravilha: Sangue.
O primeiro capítulo deste arco inicia-se com o deus Hermes, encontrando uma mulher em uma propriedade rural na Virginia chamada Zola, ele sinaliza ela sobre um grande perigo iminente, logo após um breve dialogo, ambos são atacados pelas criaturas mitológicas chamadas Centauros.
Hermes é ferido gravemente, então o deus mensageiro entrega a Zola uma chave capaz de teleportar a fragilizada mulher para Londres na Inglaterra, onde se encontra Diana a Mulher Maravilha.
Zola retorna com Diana, utilizando o teleporte, fazendo com que a Amazona trave uma batalha mortal contra os Centauros. Após algumas cenas épicas de batalha a Mulher Maravilha triunfa sobre os seus adversários e então Hermes, que foi ferido mortalmente durante o ataque dos Centauros, explica a Zola que ela está gravida de Zeus e por este motivo, será perseguida por Hera, a ciumenta e furiosa esposa do Deus dos deuses.
Logo depois destes eventos somos apresentados ao deus do sol Apollo, e toda a sua postura arrogante e invejosa, o mesmo está diante de três belas mulheres e as “transforma” em entidades videntes, lembrando oráculos, então elas proferem algumas palavras remetendo a uma profecia, dizendo que Zeus está levando os deuses do Olimpo para um caminho perigoso e que os mesmos serão conquistados, as oráculos também afirmam que um filho de Zeus vai matar outro filho para assim usurpar o poder do outro, Apollo então queima as três mulheres até a morte.
Desta forma temos a apresentação dos núcleos e a base da trama deste primeiro arco de histórias.
Após a batalha contra os centauros e a revelação de Hermes, Diana leva os dois para a ilha paraíso, lar das virtuosas guerreiras conhecidas como Amazonas.
Neste capítulo ocorre um dos momentos mais importantes, que é quando Hermes conta a Zola a origem de Hipólita e como ela esculpiu Diana através do barro, dando vida a ela com a ajuda dos deuses, porém tudo não passa de uma mentira que foi contada para Diana com o intuito de preservar a inocência dela, mas isto somente e revelado após a chegada de Discórdia, uma personagem que como o próprio nome diz é a personificação da discórdia, e logo no seu primeiro ataque contra Diana, que ocorre na ilha paraíso, usa os seus poderes para atingir as guerreiras Amazonas jogando umas contra as outras, o resultado é uma chacina completa onde irmã mata irmã, e a maléfica Discórdia se delicia com o momento.
A Mulher Maravilha, utilizando o laço da verdade, detém Discórdia acabando assim com a estratégia da vilã.
Após a batalha ocorre a principal revelação contida neste encadernado, Discórdia revela a Mulher Maravilha que é a sua irmã de sangue, portanto Diana é filha de Zeus e Hipólita.
Neste momento Diana é tomada por inúmeros sentimentos e sensações como raiva, frustração, tristeza, todos gerados devido à quebra da inocência e principalmente porque neste momento o autor trabalha de forma inteligente com um elemento totalmente avesso ao que a personagem representa, pois sendo a Mulher Maravilha um símbolo da verdade, então imaginem como seria a reação de uma pessoa que vive e tem todas as suas atitudes voltadas para a verdade e a justiça, de repente se deparar com o fato de que durante toda a sua vida, vivenciou e acreditou em uma mentira.
Após o desentendimento e conflito ocorrido na ilha paraíso, Diana decide deixar a ilha para nunca mais voltar e segue para Londres na Inglaterra, para ir dançar em uma boate.
Na boate Discórdia, que acompanha a Mulher Maravilha, Hermes e Zola, com o intuito de fazer amizade com o grupo, porém não dá muito certo e novamente Diana se desentende com ela.
Um fato interessante, neste ponto da história, é que com o desenvolvimento da trama, os leitores que já foram apresentados à nova origem da heroína e a relação dos deuses do olimpo e os mortais, agora se deparam com o interessante contra ponto existente entre o antigo e clássico da mitologia grega onde podemos observar os deuses e semideuses com os sentimentos aflorados representados pelas divindades gregas, e o novo e moderno apresentado na cidade multicultural de Londres, com a sua população vivendo em ritmo acelerado, como na maioria das megalópoles e grandes centros econômicos do mundo, contendo locais como Cafés, shopping centers, Pubs e boates repletas de glamour e dança.
Enquanto a Mulher Maravilha tenta se divertir junto de seus amigos em uma boate de Londres, a deusa Hera chega à ilha paraíso disposta a se vingar de Hipólita, culpando-a pelo caso que teve com seu marido, Zeus o senhor do Olimpo.
Diana, ainda na Inglaterra, conversa com Zola e repensa o seu papel para com as suas irmãs amazonas e acaba decidindo voltar a Ilha Paraíso, para assim ter uma conversa de mãe e filha com Hipólita, porém neste momento, nos deparamos com uma das cenas mais tristes deste encadernado, pois ao chegar à Ilha Diana se depara com as amazonas transformadas em cobras e a sua mãe Hipólita transformada em uma estátua de pedra por Hera, Diana desta vez é tomada por uma tristeza imensurável e em uma cena, brilhantemente desenhada por Cliff Chiang, vemos a Mulher Maravilha cair de joelhos chorando abraçada a Hipólita petrificada.
Neste momento sentimos a heroína, que é uma semideusa, ser verdadeiramente humana e com um drama que é comum a muitas pessoas, a dor da perda de uma pessoa amada, que reforça o titulo deste encadernado, Sangue, não somente os laços de sangue entre Diana e os Deuses, mas principalmente um laço de sangue que é único e singular, o amor de mãe e filha.
Em outro lugar, o ambicioso Apolo se encontra com Ares em um bar e convida o mesmo para forjar uma aliança, para desta forma, usurpar o trono de Zeus, porém Ares recusa e diz à Apolo que o destino jaz na mão dos mortais.
De volta a Inglaterra, mais especificamente em um café, a Mulher Maravilha junto de Hermes e Zola acabam conhecendo um homem chamado Lennox o qual afirma, assim como Diana, ser filho de Zeus.
Lennox informa o grupo sobre o desaparecimento de Zeus e que, devido a isso, existe um vácuo de poder no monte Olimpo, os heróis então arquitetam um plano que consiste em barganhar com os deuses, fazendo com que Lennox procure no submundo por Hades e Diana no rio Tâmisa por Poseidon.
Chegando ao rio Tâmisa, a Mulher Maravilha se encontra com Poseidon, porém o mesmo após um breve diálogo anuncia que pretende tomar o Olimpo para si.
O Deus dos mares se recusa a aceitar o laço de sangue com Diana e em meio a ao Diálogo, Hera que estava espreitando do monte Olimpo, envia criaturas para atacar Diana e Zola, fazendo com que a Mulher Maravilha trave uma batalha repleta de ação.
Após salvar Zola, Diana se junta a Lennox que havia convencido Hades a ouvir a proposta da Amazona.
Diana convence também Poseidon a ouvir o plano que consistia em sugerir aos dois irmãos de Zeus que compartilhassem os domínios do Deus desaparecido, desta forma um reinaria nos céus durante o dia o outro durante a noite, compartilhando além dos domínios a rainha Hera também.
A deusa Hera ao ouvir o plano reage com muita raiva, porém este era o verdadeiro objetivo da Mulher Maravilha que utilizando o cajado de Hermes se teleporta para o monte Olimpo, confrontando cara a cara a deusa responsável pela morte de sua mãe e irmãs.
Após este confronto Diana volta para a terra e infelizmente acaba pagando um alto preço por manipular e enganar Hades, pois o mesmo rapta Zola e a leva aos seus domínios, deixando a Mulher Maravilha desolada, pois durante todos os eventos apresentados no arco, procurou proteger a frágil mulher grávida, assim foi deixada a brecha para que a história continue no próximo arco, direito de nascença.
Continuamos a destrinchar a saga da maior guerreira de todos os tempos nos próximos dias.
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