“Foi assim que, após o Dilúvio, a precipitação radioativa, as pragas, a loucura, a confusão de línguas, a ira, começou a carnificina da simplificação, quando os remanescentes da humanidade esquartejaram outros remanescentes, membro a membro, matando governantes, cientistas, líderes, técnicos, professores e todas e quaisquer pessoas que os líderes das turbas ensandecidas dissessem que mereciam morrer por ter ajudado a tornar a Terra aquilo que ela havia se tornado.”
Da mais profunda genialidade do gênero, a Editora Aleph nos apresenta Um Cântico Para Leibowitz vencedor do premio Hugo de 1961 de Walter M. Muller Jr. Um clássico atemporal considerado uma das obras mais importantes em seu tempo. Sendo o único romance publicado do autor em vida.
Capitulo Um. Fiat Homo. 600 anos já se passaram desde o catastrófico evento que ficou conhecido como Dilúvio de Fogo. Sobre o grande mar seco radioativo de Utah, aonde nada vivo sobreviveria, está o jovem noviço Francis caminhando e, algumas vezes cambaleando, apertando contra o peito, uma pedra. Desde a guerra nuclear mundial que alterou ferozmente a geografia de cidades, países e continentes, tudo que se pode alcançar com os olhos o sol queima, um hábil carrasco. Mas a quem ainda vague debaixo de seus raios impetuosos. Criaturas grotescas nas bordas do deserto usando capuzes, máscaras ou mantos volumosos para esconder suas deformidades. Mas esse estrangeiro letrado que cruza o caminho do pobre irmão Francis, tornando-se seu companheiro, nada tem de aparentemente deformado.
Um encontro mais que inusitado na era da escuridão, já que uma parcela dos sobreviventes voltou-se contra toda ciência e todo qualquer ser humano que tenha acumulado algum conhecimento, queimando e expurgando qualquer sabedoria, principalmente os livros, considerados como uma arma perigosa. Um novo capitulo da humanidade se iniciou, conhecido como, a Simplificação, regida pelos chamados Simplórios.
Encontrar um Simplório era risco de morte. Eles lutavam para que a ideia da ignorância fosse praticamente uma lei. Assim poucos livros sobraram e estes estavam guardados pela Ordem Albertina de São Leibowitz, aonde os monges mantem de forma sagrada o dever de reescrever, decorar, preservar e restaurar todo o pouco conhecimento que ainda sobrou no mundo, a memorabilia para que um dia a igreja seja portadora do rumo certo para o retorno do conhecimento a todos.
No cerce deste primeiro arco da historia, Francis o jovem noviço que almeja se tornar um guardião do conhecimento, se depara com uma grande descoberta de sepulturas com relíquias do passado e seu encontro com o forasteiro misterioso, que pode ser o próprio Leibowitz irá testar sua fé ao limite de suas capacidades. Um tempo de redescobertas se inicia.
Capitulo Dois. Fiat Lux. Saltamos vários séculos sobre a historia e conhecemos outros personagens como Thon Taddeo e Zerchi que nos seguem até o fim do livro. A sociedade é cruel e podemos ver o mundo apenas pelos olhos a partir do monastério que continua seu árduo trabalho de proteger o conhecimento. Neste momento o mundo dividido em reinos quem cultuam suas conquista e clãs defendem a barbárie de suas crenças, enquanto lutam para manter o mundo imediatista na era da escuridão que irrompe para a luz. Um era de iluminismo que caminha novamente para o auge de sua extinção em meio a intrigas religiosas e politicas. A humanidade insiste em se autodestruir.
Capitulo três. Fiat Voluntas Tua. Após todo o processo de dor, vemos um fechamento de um ciclo, uma ardente fome de conhecimento já em um cenário futurístico. Ainda pairando sobre o medo dos eventos do milênio pregresso retornarem. Assim as decisões dos monges tornam-se necessárias para um futuro em longo prazo. De forma insuportável veremos o mundo perambular de volta ao passado antes do Diluvio de fogo. Mas, nem tudo está perdido e amanhã, um novo príncipe reinara. O nome dele é Verdade. Seu império se estenderá por toda a Terra. E o domínio do Homem sobre a Terra será renovado. Seu ultimo suspiro será preservado diante do seu mais infame mal transformado em luz sobreo céu radiante.
Boa parte da narrativa se passa dentro da abadia de São Leibowitz. O cotidiano dos monges e suas práticas ecumênicas nos revelando seus ideais mais íntimos, uma crença fiel em um mundo distopico e praticamente despedaçado. O latim é frequentemente usado pelo autor que nos deixa um glossário no final para diversas consultas. O livro não tem personagens principais e sim uma historia formidável e aterrorizante em seu cerce. Uma ficção cientifica entrelaçada a perguntas essências sobre conhecimento e ignorância. A visão de Walter M. Muller Jr é de muitas maneiras peculiares, dando ao leitor uma escolha árdua sobre a sobrevivência da humanidade. Perpassa 1800 anos de história futura, pulando de ciclo em ciclos, divido em três partes, trazendo personagens para cada enredo, porém mantendo o ideal do livro, sobre conhecimento versus ignorância entre outros aspectos e pontos contundentes. Cada parte do livro é uma critica especializada, cuidadosa e monstruosa com o melhor e o pior de um mundo pós-apocalíptico. Muito rico, detalhado, bem escrito com uma diagramação simples e bem feita de encadernação formidável. Um verdadeiro auge da boa obra do século XX.
Esta obra é uma grande viajem além do que se pode conhecer sobre os limites da capacidade de autodestruição da humanidade, suas extremidades irão te conduzir a conflitos quais te deixaram dias para pensar. Um dos poucos livros que Francis Bacon considerado como o fundador da ciência moderna se refere e deve ser mastigado e digerido, mas também saboreado e devorado
Ano: 2014
Páginas: 400
Idioma: português
Editora: Aleph
Preço: 49,90
