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Crítica – A Senhora da Van

Tudo parece estar nas entrelinhas, creio que essa frase se encaixa quase que perfeitamente ao filmeA Senhora da Van’‘.

A senhora Shepherd, uma idosa irreverente que perambula com sua van no bairro Camden Town (Londres), sem nenhum rumo certo carrega um mistério em relação do motivo da escolha ou consequência de viver daquela forma. Sua falta de higiene e total despreocupação em relação à opinião alheia incomoda os vizinhos, criando uma parede automática com quase todos do bairro, exceto Alan Bennet (Alex Jennings), um escritor com algumas características excêntricas, certa insegurança e confrontando tudo isso, nele permeia uma relés solidariedade com Sra. Shepherd (Maggie Smith).

A simplicidade e alguns mistérios entrelaçam a relação de ambos. É bem explicito o conflito que Alan carrega sobre questões de si mesmo, da sua profissão e das coisas que acontecem ao seu redor, ele demonstra uma dupla personalidade onde tenta se auto compreender em pontos que vão se desenvolvendo durante o filme. Já ‘‘Mary’Shepherd aparenta ser conformada com o jeito que leva a vida, e não aceita nenhum tipo de menosprezo, pelo contrário, age como se vivesse no que todos classificam como ”normal”, mas é claro a sua maneira. O contato cômico estabelecido entre Alan e Miss Shepherd dá inicio quando ela passa a usar o banheiro da casa de Bennet, que permite essa ‘invasão’ sem muito drama.

Dois pontos indefinidos sobre eles acompanham praticamente até o final e aguçam a nossa curiosidade. De um lado um escritor que está no confronto dentro de si, e lidando com certo tipo de gêmeo, que na verdade atua como sua consciência questionadora e que não tem medo de expor a realidade, e do outro lado se enxerga um homem medroso, com sua vida pacata e repleta de aspectos de um inconfundível Britânico. Tudo isso ocorrendo durante a indecisão de Bennet sobre o que escrever em sua próxima obra.

Pequenos gestos como deixar a Sra. Shepherd usar seu banheiro, fazer uma conexão entre sua antena e a TV que ela tinha na van, ouvir as situações engraçadas que ela já passou e não trata-la como a maioria fazia, foram atitudes que estreitaram a relação de Bennet e Mary, coisa na qual os dois não tinham noção que estavam alimentando, a maior prova disso são os quinze anos que a Van da Sra. Shepherd permaneceu na garagem de Alan, consequência desses pequenos detalhes da relação única e singela que construíram.

Dando atenção aos pequenos fatos mostrados, sabemos que Miss Shepherd era uma freira e que algo tinha mudado com ela, mas ninguém fazia ideia do que e do motivo por levar a vida daquela forma. No desfecho entendemos que uma colisão entre sua van e a moto proporcionou a morte de um jovem, e esse foi o motivo por ela ter vivido como uma nómade pelas ruas londrinas. Dentro dela possuía uma culpa e um medo.

Algo envolvente nessa obra cinematográfica é que diante dos fatos o público possuí uma liberdade criativa sobre um possível desfecho, é como se soubéssemos que não fica só naquilo e ao mesmo tempo se tem uma ansiedade sobre o que querem mostrar. Não podemos deixar de lado a atuação de Maggie Smith, em empoderar a  personalidade ousada da Sra.Sheperd.O fato de Alan ter escolhido escrever sobre esse acontecimento o libertou de certa forma do empasse que ele vivia e com certeza foi uma opção com significado único, pelo motivo de retratar o próprio cotidiano. Certamente o filme que transporta intimidade e simplicidade,

Nicholas Hytner, diretor do filme, afirma que Maggie Smith teve uma dedicação impecável em relação ao papel e que encarou como um desafio vestir as características da Sra. Shepherd. Realmente conseguimos absorver a essência da nada simpática e verdadeira Senhora da Van, graças a atuação de Maggie. Já Alex Jennings entrou de cabeça em um personagem com duas vertentes de si mesmo, abrindo caminho para uma infinita suposição e confrontos pessoais e familiares. Com certeza o ar britânico foi como a cereja do bolo para um elo harmonioso dos dois atores, principalmente de Alex. Duas performances admiráveis e que nos transporta para o filme, e fazendo nós querermos saber mais e mais.

O fato de a história ser baseada em fatos reais abre nossa mente para percebemos que quase tudo é questão de escolha, não de uma escolha absoluta, mas sim certo tipo de botão em que organizamos, tiramos ou adicionamos na nossa vida pessoas, situações, sentimentos e aprendizados. Aliás, foi a partir de uma gentileza que uma bonita amizade surgiu e foi mantida durante anos, e hoje é mostrada pro mundo sem muito artifícios, apenas com a demonstração da matéria prima de como uma relação entre qualquer ser humano pode surgir.

A Senhora da Van estreia nas telas brasileiras em 10 de março.

Nota: 8

Guilherme
Guilhermehttp://geeksaw.com.br/
Primeiro Batman antes de Bruce Wayne. Extrovertido e sem graça. Uma mistura de piadas ruins e clichês, e um senso de humor gigante para rir delas. Editor chefe do GeekSaw. Apaixonado pela "Bigscreen" e por tudo que é novidade.
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