A opinião abaixo tem como base dois episódios disponibilizados como cortesia pela Netflix.
“3% é um suspense futurista sobre uma sociedade dividida entre progresso e devastação. A história acompanha jovens que estão do lado desfavorecido e querem tentar a sorte de uma vida melhor do outro lado. Mas para isso, eles precisam passar por um processo de seleção, e nesse processo, só 3% conseguem.”
Mais uma vez entramos no futuro pós-apocalíptico. Qual é a fascinação que temos por tal ideia?
3% nos deixou intrigados, seria possível um suspense futurístico brasileiro ser bom vindo de uma nação especializada em criar somente comédias pastelão, dramas ou romances engraçadinhos. Será que realmente era possível?
3% é visualmente psicodélica, traz a mesma atmosfera de separação e segregação social que vimos em Jogos Vorazes. Mas diferente do filme, a série mostra as “pessoas poderosas” realmente se importando com os jovens. Tudo é feito para que o ‘Processo’ selecione os melhores entre os melhores para integrar a sociedade perfeita da qual todos querem fazer parte.
A série tem dois polos totalmente diferentes, mas que se interligam e são necessários para a criação do enredo. Em um polo, temos o Continente, uma terra devastada, miserável e corrupta onde vive a população desfavorecida. E outro, o Maralto, a Terra Prometida, onde todos tem oportunidade de ter uma vida digna.
O enredo é complexo e requer total atenção para entendermos a história, cenas do presente e passado passam em conjunto e é necessário saber o ponto em que a história estava para entender quando ela volta ao passado para dar uma explicação sobre uma situação imposta no presente. A trama, que nasceu no Youtube passa por mudanças necessárias, mas sem alterações em seu cerne. A ideia original está lá, intacta, mas com melhorias significativas na narrativa.
Os personagens que conhecemos, continuam quase os mesmos, mas com mudanças pontuais. O diálogo entre eles são em algumas vezes subjetivos e em outros extremamente claros, você deve tomar cuidado para não ser enganado pelo dizem. Os atores escalados são maravilhosos em sua laicidade, mostrando que sim, fugimos de todo o elenco branco (característica de algumas séries) e mostramos como realmente é o povo brasileiro, uma mistura de cores.
A sonoplastia da série foi composta principalmente com músicas de fundo, não sendo de grande importância para impactar algumas cenas do começo da história. Eventualmente, a trilha sonora muda para composições características brasileiras que somam aos personagens enquanto a história deles evolui.
A série definitivamente é um marco para o mercado brasileiro. É a primeira oportunidade da nossa indústria cinematográfica ter um alcance global. A troca dos atores originais do curta do Youtube foi muito bem vinda e o enredo é corajoso pelo seu pessimismo misturado à esperança entrando de um jeitinho bem legal numa disputa por espectadores que só foram alimentados por séries de comédia (Globo) ou religiosas (Record).
3% foi dirigido pelo indicado ao Oscar, Cesar Charlone (Cidade de Deus), e conta também com Jotagá Crema, Dani Libardi e Daina Giannecchini. È escrita por Pedro Aguilera e produzida por Tiago Mello com a Boutique Filmes. No elenco estão Bianca Comparato (Avenida Brasil), João Miguel (Estômago, Xingu), Zezé Motta (Xica da Silva, Chiquinha Gonzaga), Rodolfo Valente (Chapô, Sítio do Picapau Amarelo), Michel Gomes (Cidade de Deus), Rafael Lozano (Sessão de Terapia) e Viviane Porto (Babilônia, Garotas do ABC), os atores convidados são Nicolau Breyner, Mel Fronckowiak e Vaneza Oliveira.
3% estreia no dia 25 de novembro de 2016. Somente na Netflix.
