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Análise – Black Legend (Playstation 5)

Houve uma época em que os RPG’s brilhavam, dos mais diversos tipos, com mundos vastos a serem desbravados, com estilos de jogo livre, com turnos ou táticos, nessa época tudo era mais difícil, e a pior das dificuldades era com a língua americana na maioria dos jogos, isso quando eles não eram inteiramente traduzidos em japonês, era muito difícil jogar e tentar entender o desenrolar da história ou aprender a mecânica dos menus e habilidades que vinham aos montes. Com o tempo os jogos de RPG foram ficando mais diferentes, voltando-se para uma fórmula mais de ação, mas em sua maioria, sem perder a essência, que os tornavam um “RPG”. Hoje em dia, este gênero ainda é admirado e muito jogado, porém, já não se tem a quantidade de títulos como antigamente, pelo menos não os raízes com seus turnos, onde cada rodada simbolizava a vez de jogador e inimigos.

E seguindo estes moldes a desenvolvedora “Warcave” nos apresenta “Black Legend“, um jogo multiplataforma ambientado no século XVII que mistura os elementos clássicos dos rpg’s de tática com alquimia, colocando um toque diferente nas batalhas.

“A brutalidade da guerra não poupa ninguém. E talvez os sobreviventes sofram as maiores consequências.

A cidade-estado de Grant gozou da proteção de parceiros comerciais durante séculos. E quando essa proteção se desvaneceu conforme as bandeiras dos invasores unidos se aproximavam, a cidade se voltou para “Mephisto”. Com uma mão, o lendário alquimista criou uma poção potente, da qual ele liberou uma temida névoa que cobriu as ruas. Com a outra, ele espalhou seu dom de antídoto para os cidadãos. Mas com suas pernas ele finalmente saiu. E tudo o que escapou de Grant desde aquele dia foram os sons de agonia e caos…Essa é a lenda de Grant.

Bravos mercenários, nosso vitorioso rei deu a vocês uma chance de redenção, suas transgressões contra a coroa serão perdoadas. Entregue a ele essa cidade cheia de riquezas, livre do erro que uma vez tornou seus soldados ferozes, conceda a ele esse desejo, e ele lhe concederá sua liberdade!”

Com esta premissa o jogo tem início, a cidade de Grant tentou buscar ajuda com o alquimista Mephisto mas a proteção que parecia surtir efeito nos inimigos se voltou para o povo da cidade, com o desaparecimento de Mephisto e a falta do antidoto a cidade entrou em trevas se tornando sombria, população, soldados e animais, ninguém foi poupado da névoa venenosa, apenas algumas pessoas ainda mantiveram sua sanidade, seja por ficar confinado dentro da própria casa ou por ainda ter um pouco do antidoto, e ai, com o pedido (ultimato) do rei, nosso grupo de mercenários vai ao encalço de Mephisto para livrar a cidade desta desolação, e também para ter os crimes perdoados.

Grant virou uma cidade fantasma, tomada pela insanidade, cabe a nossos mercenários toma-la de volta.

A temática medieval do século XVII nos traz capas, chapéus, pistolas a pólvora e armaduras, tudo bem caracterizado, nossos mercenários terão muitos tipos de equipamentos a disposição, além de muitos itens e habilidades distintas entre as 15 classes que poderão ser aprendidas. Cada classe faz uso de determinados equipamentos, e cada equipamento libera uma habilidade diferente, ou seja, você terá que estar sempre trocando de classe a fim de poder liberar o maior número de habilidades. Através de um sistema de “classe cruzada”, o jogador poderá utilizar uma habilidade aprendida em uma outra classe equipada, porém, há habilidades que podem ser usadas com qualquer arma, como por exemplo uma alquimia de cura, mas outras necessitam de uma arma especifica para serem usadas, não exigindo a mesma arma a qual a habilidade foi aprendida, mas uma arma da mesma classe, exemplificando de uma forma melhor, se você aprender uma habilidade usando algum tipo de espada, poderá utilizar está habilidade usando qualquer espada, e não somente com aquela que você aprendeu.

Na caixa preta em baixo da descrição da Longsword tem os desenhos das respectivas habilidades da espada, para aprender cada habilidade é necessário utilizar a arma uma certa quantidade de vezes.

O grupo de mercenários é formado por quatro integrantes sendo que apenas um é customizado pelo jogador, podendo trocar feição, cabelos, sexo e a roupa inicial, porém as opções são poucas e acaba tornando esta etapa um tanto quanto desnecessária. Os outros membros do grupo são pessoas da cidade que também querem por um fim a névoa e entram no seu grupo voluntariamente, ainda é possível, ao transitar pela cidade, encontrar outras pessoas que também gostariam de entrar no grupo, porém como só é permitido quatro membros, você terá que trocar um que já esteja, mas não é uma opção muito viável pois esses personagens sempre vem em nível 1, e provavelmente seus mercenários estarão em um nível muito maior, uma exceção é a personagem Stella que pede para entrar no grupo em um determinado momento, ela com certeza você vai querer presente.

Somente quatro mercenários podem ir para o combate, então cada passo dado tem que ser bem pensado.

A movimentação durante os combates é feita através de slots de movimento, cada personagens possui uma quantidade de passos que pode dar no total durante aquele turno, e isso pode ser feito varias vezes até que se esgote esse total, você por exemplo pode andar, depois atacar, em seguida andar até o próximo alvo, fazer outra ação e depois se afastar, lembrando que tanto para andar como para atacar é necessário ter slots de movimento e ataque, fazer diversas ações também exige um número alto de slots de ação.

Atacar um inimigo pelos flancos ou pelas costas garante um dano mais alto do que se o atacar pela frente, também existe a possibilidade de se errar o ataque, caso o inimigo esteja com alguma habilidade que eleve o seu status de esquiva.

Armas e habilidades possuem diversos tipos de status que podem ser causados nos inimigos, como sangramento, atordoamento ou simplesmente deixar o alvo incendiado, tais habilidades que deixam a estratégia muito mais elaborada, um inimigo sangrando só será penalizado com o status caso se mova, então ataque-o e se afaste para que ele possa te seguir, a cada passo dado um numero de HP é retirado do total e quanto mais longe vc for, mais vida retirará do inimigo.

Um dos itens básicos para incendiar um inimigo é o coquetel molotov, que acerta até 5 alvos ao mesmo tempo.

O cenário também é uma peça fundamental durante os combates, há objetos que podem ajudar/atrapalhar durante um ataque ou uma fuga, árvores, paredes, lápides e outros objetos podem ficar entre você e o inimigo impedindo a passagem, então, se calcular bem você pode prender um inimigo em um canto para este ficar totalmente a mercê de seus ataques, assim como pode acontecer conosco também, outro método para isso é usar seus próprios companheiros, uma vez que um personagens esteja posicionado em determinado local, caso só exista aquela passagem, não é possível passar a menos que você retire ele daquela posição, da mesma forma que não é possível passar por entre os inimigos caso estes estejam na única rota possível.

Na imagem vemos o inimigo cercado em um canto pelos mercenários, como a pilha de madeiras ao lado é muito alta ele não pode sair.

Todos estes aspectos estão presentes em qualquer RPG estratégico que se preze, então o que torna Black Legend um pouco diferente?…Ele faz uso da “Alquimia” e do “Humorismo”.

O Humorismo foi um método medicinal antigo usado por médicos europeus até meados do século XIX, que afirmava que o corpo humano era composto por quatro substâncias básicas, chamadas de os quatro humores, estes por sua vez devidamente balanceados dentro do corpo humano demonstram o quão saudável aquele individuo esta. Qualquer doença ou inaptidão causada era consequência do excesso ou deficiência de um desses quatro humores, nomeados de, “Bílis Negra, Bílis Amarela, Fleuma e Sangue”. No jogo estes humores são representados por cores sendo, “Albedo (branco), Nigredo (preto), Rubedo (vermelho) e Citrinitas (amarelo). Utilizando alquimia, varias habilidades causam estes estados nos inimigos, que podem ser acumulados em três níveis, e até mesmo combinados para formar ataques catalizadores poderosos, as combinações são, Albedo + Citrinitas (Gold Catalyst), Albedo + Nigredo (Silver Catalyst), Rubedo + Citrinitas (Bronze Catalyst) e por fim Rubedo + Nigredo (Crimson Catalyst). A intensidade de um catalizador é determinada pela quantidade de humores combinados, os catalizadores também podem ser acumulados para um dano ainda maior, e após causar o dano, os humores restantes que não foram combinados ainda permanecem no alvo, abrindo possibilidade do próximo atacante continuar, se possível, as combinações. Existem muitos equipamentos que ajudam neste processo e potencializam os ataques catalizadores, então é fundamental saber usar as habilidades certas com os equipamentos que causam os mesmos humores, infligindo muito mais dano nos inimigos.

Os humores são simbolizados pelos triângulos coloridos acima da cabeça do chefe, no caso ele esta com Albedo, Citrinitas e Rubedo (branco, amarelo e vermelho).

Toda essa explicação soa confusa e de difícil aprendizado, pois bem, realmente é isso mesmo, o jogador levará um tempo até se familiarizar e assimilar tudo isso, uma vez que existem diversos menus, tutoriais, itens e equipamentos que exigem do jogador uma breve leitura de suas funções/utilidades, e como se essa quantidade de informação já não fosse alta o suficiente, entra em cena o pior vilão desse jogo, o idioma, que é inteiramente em inglês. Para quem conhece o idioma ou quem se arrisca a decifra-lo (como foi o caso desta matéria) conseguirá, com um certo esforço entender estas mecânicas que realmente necessitam de uma leitura mais profunda, mas se você não se enquadra em nenhuma das opções, acho que será um desafio muito maior caso queira encarar as ruas de Grant.

Começar a jogar e entender essas mecânicas foi um grande desafio, pois o jogo não espera que você aprenda rápido, e pode te frustrar logo nas primeiras batalhas com mortes prematuras, pois os inimigos utilizam as mesmas artimanhas do grupo de mercenários, e além disso, a medida que se vai avançando e retornando a localidades já visitadas, sempre haverá mais confrontos com inimigos mais evoluídos, pois eles acompanham seu progresso e sempre se tornam mais fortes.

Confesso que minhas primeiras horas não foram das mais divertidas, perder e reiniciar varias vezes parecia ser frequente, mas com um pouco de persistência e paciência, após finalmente entender do que se tratava tais combinações de humores, me peguei a querer enfrentar inimigos mais desafiadores, e a formular estratégias que realmente davam certo, afinal, aqui em Black Legend, a velha formula de só atacar não funciona, sem bom uso da alquimia não se progride.

Para se guiar pelas ruas de Grant o jogador pode consultar estas placas espalhadas por toda a cidade, indicando a direção exata de cada local.

Apesar de ter sido lançado multiplataforma, disponível para Playstation 4 e 5, Xbox One e Séries, Switch e PC, utilizei o PS5 como plataforma de testes, e confesso que não vi nada que fizesse jus ao poder do console, os cenários da cidade num século XVII são vistos por uma camada de cor bem acinzentada, isso para tornar a ideia da névoa plausível, porém não existe nenhum lugar que fuja desse padrão, e em alguns momentos achei que todas as localidades fossem a mesma, não existe um sentimento de “mudança de fase”, mesmo estando em outro Distrito, pois na cidade de Grant existem vários, que funcionam como as fases que vão se habilitando conforme se progride no jogo. O visual dos personagens sejam eles mercenários ou inimigos também não impressionam, nossos heróis possuem diversas vestimentas e armaduras que condizem ao século vivido, mas não possuem uma expressão facial nem diálogos que façam-nos querer ver até o fim uma conversa com um NPC, não existem cutcenes, e durantes os combates as animações tanto de heróis como inimigos é bem pobre, nenhum golpe que impressione visualmente e que cause algum impacto. Os poucos chefes encontrados não possuem nenhum carisma, e se não fosse pela diferença de tamanho com relação aos demais inimigos passariam como outros qualquer. Pelo que é mostrado, Black Legend poderia facilmente ser um jogo de Playstation 3 ou Xbox 360, e não da geração atual.

Mesmo aproximando a câmera ao máximo não há nenhum detalhe que chame a atenção, mas o básico foi entregue.

Outro fator que incomodou foi a câmera do jogo, que por muitas vezes travou e impossibilitou a movimentação dos personagens, ao move-la perto de paredes ou locais com desníveis, ela pode não funcionar adequadamente ou simplesmente travar, e como disse, isso ocorreu por várias vezes, foi um problema frequente, que pode ser facilmente resolvido com uma atualização. Bugs também ocorreram no decorrer da campanha, estatuas fora do alicerce, escadas apoiadas ao ar assim como teias de aranha, escombros no meio da passagem onde não deveriam estar são alguns exemplos das bizarrices encontradas, nada disso atrapalhou o desenvolvimento do jogo, exceto dois momentos isolados onde o personagem simplesmente travou no gráfico sendo necessário resetar o jogo para continuar.

Era pra ser um passo para o lado, mas esse mercenário resolveu subir e se equilibrar em cima deste portão.
Nesta outra cena, seria tudo normal, se onde o mercenário está não fosse água e um local não atingível, este foi um dos momentos que o personagem ficou travado e tive que reiniciar o jogo.

Após todos estes fatores analisados, podemos dizer que Black Legend entrega um bom RPG raiz, com um diferencial interessante, é difícil se acostumar no inicio com tantos menus, tutoriais e legendas sem uma tradução para o nosso idioma, um português de Portugal ou até um espanhol já seria de grande ajuda, mas, vencida esta barreira, ele se torna intuitivo e divertido. As 15 classes de profissão aprendidas levam um tempo para serem testadas em sua totalidade e é uma tarefa que vai valer a pena para sempre buscar a melhor estratégia durante os combates, graficamente falando, não há nada que que se possa elogiar, na verdade se ele tivesse saído duas gerações atrás estaria de acordo, neste ponto é entregue um “feijão com arroz” aceitável, não existe um fator replay que te faça jogar novamente a não ser pelo level hard disponível desde o inicio e muito pouco recomendado de cara, pois neste nível, caso algum membro do grupo morra em combate este se perde para sempre, tendo que ser feito um novo recrutamento. Sem mais, Back Legend é um jogo para amantes de RPG que buscam um diferencial diante tantos outros títulos que temos disponíveis hoje em dia.

Nota 3/5

Charles Odilon
Charles Odilon
Membro do S.T.A.R.S ao lado de Chris, apaixonado por games desde sempre, extrovertido e amigão da vizinhança, segundo super-soldado conhecido pela humanidade e chamado de Nash, analista de games do Portal GeekSaw.
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