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Crítica – Fallen

A história de amor entre uma jovem de 17 anos e um anjo caído, que alcançou a primeira posição no ranking do The New York Times de vendas de livros, chega aos cinemas. Dirigido por Scott Hicks, diretor australiano, o longa Fallen conta com a participação de Addison Timlin (Lucinda “Luce” Price) e Jeremy Irvine (Daniel Grigori) nos papeis principais. Produzido na Austrália pela Lotus Entertainment, Mayhem Pictures e Silver Reel, o longa é distribuído no Brasil pela H20 Films e estreia em 08 de dezembro.

Escrito pela autora americana Lauren Kate, Fallen abre a saga que inclui mais três volumes lançados no Brasil com os títulos Tormenta, Paixão e Êxtase. Juntas, as quatro obras venderam mais de 10 milhões de exemplares em todo o mundo, sendo 1,5 milhão no Brasil.

O roteiro do filme foi escrito por Michael Ross, a partir da adaptação para o cinema do texto de Lauren Kate, a cargo da dupla Nichole Millard e Kathryn Price. Lauren é creditada como produtora executiva da versão cinematográfica de seu romance.

Responsabilizada pela misteriosa morte de seu namorado, Luce é mandada para o reformatório Sword&Cross, onde se apaixona por Daniel Grigori, sem saber que ele é um anjo apaixonado por ela há milênios. Ao mesmo tempo, a protagonista da trama não consegue se manter afastada de Cam Briel, que também é um anjo e há tempos luta pelo amor de Luce.

Isolada do mundo exterior e assombrada por estranhas visões, ela começa aos poucos a desvendar os segredos de seu passado e descobre a verdadeira identidade dos anjos caídos, bem como o amor que nutriam por ela ao longo de séculos. Luce deve, então, fazer sua escolha.

O filme tem início com um grande diferencial do livro. Logo nos primeiros segundos, uma narração seguida por imagens clássicas e assustadoras de anjos e demônios nos conta muito sobre a revolta de Lúcifer e a Queda dos anjos. É revelado também o maior segredo de Daniel, que o prende junto aos outros Caídos ao meio da guerra entre o Céu e o Inferno. A apresentação parece ter sido feita para situar o espectador que não leu a história, mas tira parte do mistério da descoberta que há no enredo escrito. O fato de tudo já ter sido exposto torna a ingenuidade de Luce inquietante e faz com que o roteiro se arraste durante a exibição.

Quando Luce chega ao reformatório, somos surpreendidos por uma Sword&Cross diferente da esperada. A escola foi ambientada em um elegante e decadente castelo, o que dá uma aura gótica e sombria ao filme. Com a entrada na escola, conhecemos os demais personagens da trama, outros anjos caídos que ficam contra ou favor de Luce e Daniel. Todos estão lá: Cam, o anjo bad boy que se apaixona por Luce pela primeira vez em milênios (e não há qualquer explicação para isso, além dela estar “diferente”); Ariane, que deveria ser uma personagem carismática e que passeia entre o bem e o mal com graça, acaba reduzida a uma mera guia turística de Luce pelo campus; Gabbe, a única que manteve a essência superficial que tem nos livros; Roland, que passa o filme inteiro rindo e participando de uma festa imaginária e Molly, cujo visual estigmatizado ao extremo beirou o cômico.

A melhor amiga humana de Luce, Penny foi extremamente mal utilizada. Não há tempo para conhecermos a personagem, além dos minutos em que conversa com a amiga no quarto. Todos sabemos a importância de Penny na história e como tudo foi tratado de forma rasa no filme.

A trilha sonora escolhida teve um viés alternativo e parecia querer nos lembrar que, apesar de todo o drama, dos cenários vintage, anjos e demônios, estamos em um drama adolescente. As músicas ajudam a chamar atenção para determinados momentos do filme quando as coisas estão paradas demais.

A fotografia impressiona no início, mas acaba esmaecida pelos efeitos especiais cansativos. Não espere ver os anjos e todo seu esplendor em Fallen. As cenas de batalha foram filmadas em ângulos que lembram filmes de baixo orçamento e as asas, bem, vamos dizer que há muito brilho envolvido.

Todos sabemos que Fallen é sobre perguntas, questões existenciais que são esclarecidas durante os livros seguintes e que instigam quem acompanha a querer saber mais. Porém, as questões simplesmente não parecem interessantes o suficiente para alguém querer entende-las e a sensação que fica para o espectador é que se trata de um roteiro confuso.

Outro ponto interessante é como Fallen se encaixa em 2016. Na época em que foi escrito (2009), o livro fazia companhia a Crepúsculo e a comparação entre as sagas é inevitável. Atualmente, uma história em que a vida de uma protagonista feminina é inteiramente dependente do par romântico, não importa qual criatura mitológica ele seja, é algo delicado. A todo tempo, Lauren Kate e o elenco tentam transformar Luce em um símbolo do empoderamento feminino, mesmo com a personagem passando o filme inteiro definindo suas escolhas baseadas no garoto mais próximo. Se Lucinda é livre para escolher, por que não a vemos pensando em si mesma como indivíduo? A garota vê sombras e vidas passadas, mas acaba sempre mais preocupada com quem vai beijar no final do dia.

É impossível não comparar as cenas em que Daniel, Luce e Cam aparecem com as de Edward, Bella e Jacob. Uma mocinha deslocada, não muito bonita que parece não se encaixar no mundo por conta de um chamado do sobrenatural; um bom moço atormentado por um segredo que não o deixa se aproximar da mocinha, que faz grandes sacrifícios por não querer feri-la e um terceiro cara boa pinta que pode oferecer à protagonista uma vida normal, longe dos perigos. Já viu isso antes? Fallen bebe da mesma fonte. Se a franquia continuar, é provável que tentarão deixar Luce mais durona e a demora para o lançamento do filme pode ter contribuído para uma construção tão fraca e influenciável.

As atuações também deixam a desejar. Addison Timlin faz uma Luce sussurrante que não transmite convicção alguma. Na verdade, todas as suas falas parecem terminar com uma interrogação, o que não funciona para uma imagem de protagonista livre e forte que os produtores de Fallen querem vender. Jeremy Irvine como Daniel contenta-se em permanecer bonito e decorativo em tela e seus ataques de fúria nos momentos em que se lembra que é um anjo são hilários. Harrison Gilbertson fez o que pode com o seu Cam, mas suas falas variavam pouco além das cantadas baratas e tiradas irônicas de adolescente rebelde. A vilã, Miss Sophia (interpretada pela veterana Joely Richardson) também ficou óbvia e acabou errando o ponto.

Podemos concluir que Fallen poderá agradar aos fãs incondicionais da série, mas também trará um certo estranhamento para quem já leu a saga escrita e, provavelmente, não empolgará aqueles que só conhecerão os anjos de Kate no cinema.

Nota: 6

Guilherme
Guilhermehttp://geeksaw.com.br/
Primeiro Batman antes de Bruce Wayne. Extrovertido e sem graça. Uma mistura de piadas ruins e clichês, e um senso de humor gigante para rir delas. Editor chefe do GeekSaw. Apaixonado pela "Bigscreen" e por tudo que é novidade.
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