Após 4 anos do lançamento de Resident Evil 7, a Capcom resolveu fazer algo inédito e trazer o mesmo protagonista para a continuação de um título numerado. Parece que os acontecimentos em Louisiana não foram totalmente finalizados, e após algum tempo de paz, Ethan Winters terá que viver novamente um inferno para tentar salvar sua nova família.
A Capcom sempre seguiu um padrão de a cada novo título deixar um de seus protagonistas ser a estrela da vez, em uma breve recapitulação tivemos Chris Redfield e Jill Valentine em Resident Evil 1, depois foi a vez de Leon Scott Kennedy e Claire Redfield estrearem em Resident Evil 2, já em Resident Evil 3 e 4 a Capcom resolveu tirar o sistema de escolha de personagens deixando apenas 1 como único protagonista mas tendo a participação de coadjuvantes com uma pequena parcela de jogabilidade, sendo assim Jill retorna no RE3 e Leon em RE4, em Resident Evil 5, Chris que só havia protagonizado o primeiro título e feito uma participação especial no RE2 (quem jogou saberá) retorna, mas a Capcom muda um pouco as coisas e traz ao jogo Sheva Alomar, suporte de Chris durante toda a campanha, era possível jogar em dupla usando Sheva e também controla-la na campanha solo ao se finalizar o game 1 vez, e seguindo este principio, eis que temos Resident Evil 6 com seus 7 protagonistas em 4 campanhas distintas e que se interligavam, era a primeira vez que víamos Chris e Leon em um mesmo RE, coisa que muitos jogadores pediam para que acontecesse, além deles o jogo tinha o novato e promissor Piers Nivans como parceiro de Chris, a novata Helena Harper como parceira de Leon, o novato Jake Muller que é filho de Albert Wesker com sua parceira Sherry Birkin, coadjuvante em RE2 que agora retorna crescida e com “poderes”, e por último e não menos importante Ada Wong que foi coadjuvante e fundamental em RE2 e que também participou de RE4 e teve uma DLC com sua própria campanha. Em RE7 a Capcom quis inovar e nos apresenta Ethan Winters como protagonista, uma pessoa comum a procura de sua esposa desaparecida, sem nenhuma habilidade aparente, somente com sua determinação em sua busca. Já em Resident Evil Village para nossa surpresa Ethan retorna, agora mais experiente e com treinamento militar, tanto em combate como em armas, e a surpresa maior é ter um dos mais velhos veteranos da série como coadjuvante mais uma vez, sim, Chris participou do RE7 sendo o salvador de Ethan ao final da campanha e com uma DLC (Not a Hero) onde ele aparentemente acaba com as pontas soltas da trama, mas desta vez ele aparece mais misterioso logo ao início, dando indícios de ser um suposto vilão.
Nesta nova história Ethan se vê em meio a uma vila na Europa, cercada por lobisomens, num primeiro momento isso soa meio estranho, mas ao analisar toda a trajetória da série, podemos deduzir que seria fácil surgir uma mutação como essa.
Ethan, agora pai da pequena Rose encontra-se nesta vila em sua procura, que foi sequestrada por Chris sem nenhum motivo ou explicação, e isso é passado diretamente ao jogador, que também não recebe nenhum tipo de explicação sobre esse desenrolar. A medida que tudo avança descobrimos que uma seita de cultistas liderados pela Mãe Miranda está por trás de tudo, mesmo que ainda não saibamos o real motivo do sequestro de Rose.
Está nova vila nos lembra muito a de RE4, mas aqui a atmosfera nitidamente é mais pesada, o ar sombrio e as ameaças muito mais perigosas. A exploração por vielas e casas vazias nos mostra que algo de ruim aconteceu por ali e seus residentes pagaram um preço alto. Os poucos NPC’s encontrados até contam sobre os acontecimentos, mas a trama não permiti que saibamos demais além do necessário, e cabe a boa e velha exploração para entender e desvendar esse novo mistério.
RE Village segue boa parte da mecânica de seu antecessor com pequenas mudanças, a câmera em primeira pessoa se faz presente mais uma vez, e isso é uma coisa boa pois toda essa atmosfera se torna mais profunda com essa visão mais aproximada, Ethan ainda tem a opção de se defender de ataques inimigos e também ainda combina itens para fazer munições e itens de cura, mas temos uma diferença com relação ao abrir do menu de itens, agora ao abri-lo Ethan não fica mais vulnerável a ataques como acontecia em RE7, o menu praticamente pausa o jogo para os inimigos (mas não pausa o tempo de conclusão do game) te dando a opção de respirar em situações de perigo, isso torna a ação um pouco prejudicada, pois interrompe momentos onde o jogador deveria agir de forma rápida para evitar uma morte, já para outras pessoas é um alivio ter um momento de paz para clarear as ideias.
A vila de Village é como se fosse um ponto de partida para praticamente todos os locais do jogo, e o sistema de “vai e vem” está mais presente do que nunca, apesar da maior parte destas idas e vindas serem totalmente lineares, o jogo vai te fazer seguir uma rota determinada caso queira ir em linha reta para o desfecho, porém o que torna interessante é desvendar e visitar todas as localidades, há muitos itens de ajuda e objetos secretos a serem recolhidos e nem tudo é mostrado no mapa, esse por sua vez que é de extrema importância a fim de se familiarizar com a vila e seus seguimentos.
Já os novos inimigos parecem ser tirados diretamente de um filme de terror, e mesmo que pareça estranho existe toda uma explicação para tê-los aqui. Os Licans (os homens fera que lembram lobisomens) são os inimigos iniciais e por sua vez muito mais perigosos e ágeis do que os mofados do jogo anterior, além de atacarem com mordidas e agarrões, podem usar machados, facas e arcos, são numerosos e por vezes Ethan se encontrara cercado por eles. Há também licans com armaduras, outros em 4 patas que realmente remetem a um lobisomem e um homem enorme de pose de uma marreta que lidera todo o bando, ele nos faz pensar em “Bitores Mendes”, chefe da vila em RE4, porém este possuía muito mais carisma.
Parece que RE Village tentou seguir um caminho parecido ao de RE4, pois além da vila, temos o castelo da “Lady Dimitrescus” e suas 3 filhas, ela é vista em um primeiro momento como vampira, mas assim como os licans existe uma explicação dentro do contexto para sua existência, ela tem uma estatura beirando os 3 metros de altura e pode criar navalhas a partir de seus dedos, será um belo desafio para Ethan. Esse castelo é palco da primeira etapa do game, onde Ethan tenta encontrar sua filha inicialmente. Lady Dimitrescus é uma dos 4 Lordes a serviço da Mãe Miranda, ela tem um papel parecido com o de Jack Baker, onde ela ira perseguir Ethan por entre salas e corredores do castelo assim como suas filhas que lembram bruxas, nos calabouços vemos inimigos que se assemelham a zumbis, eles usam túnicas e vem cambaleando em nossa direção, porém podem usar armas brancas como facas e até espadas o que descarta a ideia de serem zumbis.
Além de Dimitrescus, os outros 3 lordes são, “Donna Beneviento” e sua boneca “Angie”, sua casa parece amaldiçoada e esta parte do game pode ser a mais amedrontadora, fazendo jus ao terror e a volta as origens, “Salvatore Moreau”, um homem deformado e corcunda, que não apresenta perigo, porém as aparências em RE sempre podem mudar e por último “Karl Heisenberg”, um cara enigmático e que possui um certo controle sobre magnetismo, ele reside em uma fábrica onde você encontra inimigos modificados com partes mecânicas, é um verdadeiro “show de horrores”. Esses 4 lordes são os chefes de fase que precisam ser derrotados para que Ethan chegue até a Mãe Miranda e recupere sua filha. Basicamente todo o enredo gira em torno destas “4 casas”, e cada chefe possui um modo diferente de abordagem e inimigos que Ethan terá que lidar, seja em castelos, casas sombrias, terrenos alagados ou fábricas.
o Motor gráfico usado, o RE Engine segue firme e mostra que a qualidade só tende a aumentar, todos os cenários são caprichados e possuem um nível de detalhes impressionante, tenha como exemplo o castelo de Dimitrescus, com enormes lustres, escadarias e salas imponentes que certamente fazem jus a realeza. Se bem que o Playstation 5 já da uma boa ajuda rodando tudo a 60hz. Já a trilha sonora, como posso dizer, sempre condiz com o momento, se tem uma coisa que nunca está fora dos eixos é a trilha sonora em um RE, não só ela como o som ambiente também contribui para uma imersão profunda que liga o jogador diretamente com o ambiente onde ele está, e como também já mencionei em outros títulos da franquia, muitas vezes a falta de uma música de fundo contribui muito mais do que se existisse uma, o completo silencio predomina em ocasiões onde ele é realmente necessário, tornando uma passagem em determinado local um verdadeiro teste de coragem, vide a casa de Donna Beneviento e saberá exatamente do que estou falando. Além destes aspectos é possível escutar estalos de galhos no chão, simbolizando um lican a espreita, assim como rosnados e até a Lady Dimitrescus falando ao se aproximar de Ethan, combine está sonoridade com o uso de um bom fone de ouvido e com certeza você estará dentro do jogo.
Agora uma curiosidade que talvez somente os fãs notarão, durante a campanha somos apresentados ao Duque, ele é o comerciante que vende itens e armas, além de poder melhora-las para níveis mais altos, por um preço é claro, ele também prepara alguns alimentos que aumentam os atributos de Ethan, como vida, defesa e velocidade de movimento, mas para isso é necessário abater animais como galinhas, peixes e porcos, encontrados em vários locais pela vila, a curiosidade aqui é que, ao estar no menu do Duque uma música toca ao fundo, não sei exatamente se é apenas coincidência ou se foi proposital da Capcom, mas essa música é extremamente semelhante ao se entrar na mansão em RE1, e espero de coração que isto seja proposital, pois seria um “fã service” sem igual.
Resident Evil Village segue a formula de RE7, mas ele conta uma nova história, trás um Ethan mais preparado para o jogo e seus desafios, e também trabalha melhor a construção de seu personagem, a sua motivação neste jogo é a mesma se não maior do que no jogo anterior, o enredo foi bem construído, apesar de haver momentos com falas desnecessárias ou piadas em momentos inoportunos. Muitos podem achar que está nova trajetória que RE está tomando não seja a certa ou que simplesmente o jogo deveria ter outro título, porém desde o inicio nunca se tratou de um jogo de zumbis e sim de armas biológicas, a medida que os anos passam tudo evolui e nossos protagonistas precisam evoluir junto, e até envelhecer, isso abre margem para novas histórias e para novos protagonistas como foi o caso de Ethan, este jogo abre uma margem gigante para isso, porém não podemos nos esquecer que há ainda muitos personagens que não foram totalmente aproveitados na série e outros que praticamente caíram no esquecimento, mesmo eles tendo o carisma necessário e a aprovação dos fãs pelo mundo todo.
RE Village cumpre seu papel muito bem e continua a fórmula que deu certo em RE7, agora cabe a nós esperar pelo próximo título numerado e ver o que nos aguarda, a série tem um potencial enorme para novas histórias e também para continuações, e a Capcom sabe interligar tudo isso de forma maestral, no momento temos um Resident Evil 4 Remake quase pronto, e após ele que venha um Code Veronica Remake, ou um Revelations 3, ou até mesmo um RE9, história e personagens não falta para isso!
Resident Evil Village já está disponível para Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Séries X e PC’s.
Nota 4/5